Manual de procedimentos da Polícia Civil é revogado após três anos de polêmicas

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Norma foi chamada pela categoria de ‘decreto da mordaça’. Regras levaram a sindicâncias contra delegados por manifestarem opiniões e darem entrevistas sobre casos de corrupção. Com a boca tapada, agente de polícia participou de protesto na Assembleia Legislativa, em 2019
Heitor Moreira/TV Anhanguera
O governador Wanderley Barbosa (Republicanos) revogou nesta sexta-feira (6) o manual de procedimentos da Polícia Civil. O texto foi publicado em março de 2019, durante o governo de Mauro Carlesse (PSL), e causou muita polêmica, sendo chamado pela própria categoria como ‘decreto da mordaça’.
Na época, o decreto foi publicado após uma série de atritos entre a Polícia Civil e governo do estado, inclusive com a realização de buscas no Palácio Araguaia durante investigação sobre funcionários fantasmas. Meses depois, vários delegados foram transferidos e manual publicado pelo governo.
O texto original tinha trechos muito questionáveis que chegaram a ser investigados pela Polícia Federal nas operações que levaram ao processo de impeachment e renúncia de Carlesse. É o caso de um dispositivo que condicionava às buscas em repartições públicas a autorização do Delegado-Geral de Polícia, cargo político escolhido pelo próprio governador.
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Um relatório da Polícia Federal apontou, inclusive, que houve aparelhamento de um grupo de espionagem dentro da Secretaria de Segurança Pública (SSP) para monitorar as ações dos próprios delegados e reportar ao governo. O setor era responsável, entre outras coisas, por avisar sobre operações e cumprimento de mandados.
Outras partes do decreto proibiam os delegados de criticarem medidas do governo e autoridades públicas, bem como de dar entrevistas sem autorização. Alguns delegados chegaram a responder sindicâncias por falarem com a imprensa sobre investigações ligadas ao governo.
Em um dos casos, um delegado foi investigado pela corregedoria porque respondeu a uma postagem da SSP nas redes sociais com a mensagem: “Parabéns Palmas: 31 anos de muita Corrupção!!!”. Em todos os casos as sindicâncias acabaram sendo suspensas pela Justiça.
Cumprimento de mandados no Palácio Araguaia, em 2018, causou atrito entre a PC e o governo
Ana Paula Rehbein / TV Anhanguera
A revogação
A revogação do manual foi publicada no Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (6), em um decreto assinado por Wanderlei Cardoso, que assumiu o cargo após renúncia de Carlesse.
O governo afirmou que “à época que foram publicados, ainda na administração anterior do Governo do Tocantins, os decretos trouxeram várias queixas e reclamações de policiais civis e delegados sobre os procedimentos adotados”.
O atual secretário de Segurança Pública, delegado Wlademir Costa, afirmou que diversos procedimentos contidos nos documentos revogados já são previstos em outros regulamentos e na própria legislação como o Código de Processo Penal.
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Fonte: G1 Tocantins